Este não é um poema, como o precioso “Dear Basketball” que você escreveu e que, posteriormente, te rendeu um Oscar.

Tampouco é uma carta aberta tão poderosa como aquela publicada por Allen Iverson no The Players’ Tribune. Quem me dera…

Trata-se apenas de uma singela homenagem de um fã do basquete que, como tantos fãs do basquete mundo afora, chorou a sua morte há 4 anos, em um domingo que jamais será esquecido.

Quando ouvi falar de você pela primeira vez, eu era apenas um menino que descobrira e aprendera a amar o esporte ao longo da década de 1990.

No início, você era apenas o “novo possível Michael Jordan”. Mas logo percebi que, semelhanças e emulações à parte, tratá-lo assim era diminuir o seu tamanho.

Por falar em tamanho, você também era mais do que o mero “coadjuvante” do Shaq. Afinal, muitas vezes era a sua camisa 8 que aparecia em momentos de protagonismo naquelas tantas vitórias do Lakers entre 1999 e 2002.

Já admiti que torci contra. Mas era inútil e, confesso, ficava um sorriso mal disfarçado no canto da boca ao te ver ganhar e ganhar e ganhar.

Em 2003, um susto. Um susto para todos os seus admiradores. Um trauma para você. O Kobe? Preso? Do ruído que chegava a respeito daquele episódio aqui no Brasil, alguma coisa negativa ficou no ar, é claro. Será que, afinal, você não era tão heroico assim?

Na sequência, você perdeu uma final, você se separou do Shaq e o Shaq logo ganhou um título.

Então o Kobe já era? Não. Você se reergueu, marcou 81 pontos em uma partida, levou um time renovado (e “só seu”) a três finais da NBA, ganhou uma medalha de ouro (depois viria outra) e mais dois anéis de campeão nesse processo…

E virou o Kobe líder. O Kobe que pensava antes no time e depois em si mesmo. O Kobe que era capaz de abraçar um companheiro de equipe depois de um erro. Um Kobe diferente.

A sua marca evocava excelência. E isso antes da “Mamba Mentality” e de frases atribuídas a você que acabavam perdidas em um oceano de clichês.

Eu até duvidava de algumas coisas, para falar a verdade. Mas fui pesquisando, lendo, me aprofundando e escutando quem esteve com você ao longo da jornada e, sim, você era de fato um nerd maluco de basquete que acordava de madrugada para treinar centenas de arremessos e movimentos e fazia tudo outra vez no dia seguinte…E de novo e de novo e de novo, agora vestindo a camisa 24.

Lembro-me de madrugadas à frente da TV, que me rendiam olheiras no dia seguinte. No fundo, aquele esforço era por você, querido Kobe. Maldito fuso horário da costa Oeste dos Estados Unidos…

Tive a chance de te ver in loco, em Nova Iorque, na Mecca do basquete. Minha esposa diz que meus olhos brilhavam. Foram 31 pontos, 6 assistências e 10 rebotes em cerca de 44 minutos que registrei no “HD” do meu coração.

Estava vendo o jogo em que você rompeu o tendão de Aquiles e acertou os lances livres mesmo assim. Estava vendo o jogo em que você superou Michael Jordan no ranking de maiores pontuares de todos os tempos. E ignorei completamente o jogo em que foi batido o recorde histórico de vitórias em uma temporada regular da NBA por estar vendo a sua despedida.

Na sua despedida, aliás, eu me emocionei e vibrei como poucas vezes na vida. Há tempos já não fazia mais nenhum sentido torcer contra. A saída de cena mais apoteótica da história dos esportes? Talvez.

E aí você virou somente uma lembrança dentro das quadras. E uma onipresença fora delas. Uma daquelas pessoas que sentimos que nunca irão morrer.

Até que você morreu. Como assim o Kobe morreu?

Eu estava em um hotel com a minha família, com a minha primeira filha no colo, comemorando o aniversário de 70 anos do meu pai naquele 26 de janeiro de 2020. E o dia simplesmente “murchou” depois que tive a certeza de que, sim, como todas as pessoas um dia irão morrer, você havia partido.

Só que nós sabemos que, enquanto houver um jogador em uma quadra de basquete que se inspirou em você, e isso jamais deixará de existir, você estará por aqui.

Em “Dear Basketball”, você disse que você e o basquete deram tudo um ao outro. Faltou só dizer uma coisa, querido Kobe, e por ela somos gratos: você nos deu tudo o que tinha também.

Seus fãs te amarão para sempre!

Daniel Portilho Jardim

Belo Horizonte/MG, 26 de janeiro de 2024, 4 anos depois