Caro leitor, confira o novo texto do nosso colunista Lucas Guanaes sobre o calendário do basquete brasileiro e as inspirações da Liga Nacional de Basquete (LNB) para as competições disputadas pelas equipes do país.
Graduado em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi, repórter da TV Cultura em São Paulo, criador do canal Duas Saídas (especializado em basquete nacional), ex-repórter do NBB e colunista/comentarista em veículos focados em basquete, Guanaes é um dos mais relevantes produtores de conteúdo do país.
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Em dezembro de 2014, a Liga Nacional de Basquete (LNB) firmou uma parceria com a NBA (National Basketball Association). Desde então, o relacionamento com a melhor liga do mundo rendeu diversas trocas entre as entidades: do nosso lado, de experiência. Do lado deles, mais um movimento de expansão de marca.
Fato é que a LNB, em vários aspectos da organização do cenário de elite na modalidade, adota modelos inspirados na NBA, adaptados para a nossa realidade. Com mais ou menos sucesso, é fácil de notar os princípios no sistema de franquias, nas transmissões locais e na pulverização dos direitos televisivos.
Nos últimos anos, porém, uma das frentes de desenvolvimento é a busca pelo preenchimento do calendário, que até então ocupava boa parte do ano, mas não todo:
Outubro-Novembro: Início do NBB
Janeiro: Copa Super 8
Março: Jogo das Estrelas
Abril-Junho: Playoffs do NBB
Julho-Setembro: Liga de Desenvolvimento (LDB)
E ainda existe o Interligas, que contempla torneios amistosos sub23 e adultos de equipes brasileiras e argentinas. O único buraco no calendário ocorria entre o fim da LDB e o início do NBB. Não mais.
As criações do Torneio de Abertura NBB e do NBB Trio, competição de basquete 3×3 e atrações culturais, atendem a vários objetivos. Inicialmente, colocam uma série de eventos semanais em uma época do ano movimentada apenas pelo Campeonato Paulista, que não é atribuição da LNB, embora englobe quase metade do seu principal campeonato.
No caso do Torneio de Abertura, reunir as equipes fora de São Paulo que não disputam o Interligas é uma boa maneira de garantir alguns jogos de pré-temporada em alto nível, o que pode privilegiar o início do campeonato principal. A intenção da Liga é manter esteve evento anualmente, garantindo o mínimo de uma preparação mais estruturada. Como efeito secundário, também facilita a aproximação dos novos elencos com a torcida e imprensa.
Dividir as etapas do NBB Trio em diferentes sedes movimenta e reforça a marca em outros polos além de São Paulo. E se o basquete 5×5 já tem, de maneira natural ou importada, uma relação muito grande com o hip hop, rap e toda forma de cultura de rua, o 3×3 é praticamente parte intrínseca desse movimento.
Faz sentido, portanto, que o NBB Trio não se restrinja apenas ao que acontece na quadra. Com eventos culturais e a possibilidade de a comunidade também bater uma bola, cada etapa do Trio é como se fosse uma celebração da entidade – e dos patrocinadores.
Embora não faça parte do calendário da temporada de 3×3, a criação do NBB Trio e a aproximação da LNB com a ANB 3×3 cutuca a Confederação Brasileira de Basketball (CBB), que organiza a modalidade. Tanto que assim que o evento da Liga foi anunciado, não foram poucos os posts da confederação exaltando os próprios feitos nos últimos anos com o basquete de meia quadra, bem como a divulgação das etapas futuras.
Se, nos últimos anos, a CBB tomou produtos da Liga e endureceu as condições de chancela da NBB até a retirada desta, agora, mais estruturada e com o retorno de um patrocinador master, a Liga parece estar expandindo novamente os seus horizontes. Além de “molhar os pés no mar” do 3×3, a recriação da Liga Ouro foi fortemente considerada no escritório no bairro da Saúde, em São Paulo.
A segunda divisão nacional era atribuição da LNB até 2019, quando a CBB incorporou a competição e a renomeou como “Campeonato Brasileiro”, o que gerou um grande atrito no ecossistema basqueteiro.
Atrito esse que parece não ter fim, com a não participação de brasileiros na Liga Sul-Americana por mais um ano. Papo para outro dia.
Final no Anhangabaú
O Trio reuniu 16 dos 18 times que disputam o NBB, que puderam realizar parcerias com equipes locais ou montar um elenco próprio desde que não utilizassem atletas do 5×5.
Cada equipe recebeu um valor de participação no torneio e os três primeiros colocados receberão uma premiação de dez a trinta mil reais. Premiação que, até então, nem os vencedores do NBB têm.
Foram três etapas, disputadas em São Paulo, Campina Grande e Brasília. Os doze melhores times, agora, jogarão a fase final mais uma vez em São Paulo, no Vale do Anhangabaú, no dia 05 de outubro. Exatamente uma semana antes do início do NBB.
Atração no Nilson Nelson
Com a participação de Botafogo, Brasília, Caxias, Flamengo, Minas e Vasco, o torcedor brasiliense poderá ter acesso a alguns dos principais times e elencos do NBB de 29 de setembro a 4 de outubro.
Algumas das grandes contratações da temporada, como Luis Montero, Shaq Johnson e Alexey devem estar em quadra, assim como estrelas da competição, como Shamell, Baralle, Franco Balbi e Gui Deodato.
Todos os jogos serão transmitidos no Youtube do NBB, numa prévia do que veremos a partir de 12 de outubro.
Um passo à frente da NBA?
No quesito preenchimento de calendário, a Liga Nacional de Basquete até se antecipa à NBA, que só na temporada passada conseguiu adicionar uma copa ao calendário. E se a recém-nomeada Emirates Cup ainda não atende ao princípio de movimentar a virada de turno, como ocorre com a Copa Super 8 no Brasil, em breve, com a futura expansão para 32 franquias, um cenário possível é que a copa seja realocada e que os jogos dela deixem de valer também para a temporada regular, que tende a diminuir.
No calendário norte-americano, que começa em outubro e vai até agosto, com Draft e Summer League, ainda resta espaço para um produto em setembro. Mas esse também é um papo para outra hora.
Outras inspirações
É bem verdade que os Estados Unidos não são a única fonte de inspiração. A LNB brasileira também bebe da mesma fonte da Liga Nacional de Básquet argentina, com a criação da Liga de Desenvolvimento e até adotando a mesma plataforma de streaming, o Basquet Pass.
Além disso, planos futuros de uma liga continental que não dependa do relacionamento com as federações, sejam nacionais ou internacionais, têm um quê de EuroLiga. Tratativas com Argentina, Paraguai e Uruguai já ocorreram no passado. Todavia, por um sem-número de motivos, elas ainda são justamente isso: tratativas, planos futuros, discussões hipotéticas.