O Raymond James Stadium, em Tampa, palco do Super Bowl LV. Foto tirada durante a partida entre o Tampa Bay Buccaneers e o San Francisco 49ers em 25/11/2018, que acompanhamos pelo Tour 10Jardas.

Você já ouviu a expressão “o futebol americano é o esporte que mais cresce no Brasil”? É provável que sim! De fato, podemos apontar que o nosso país, com mais de 20 milhões de fãs, está atrás apenas do México em número de pessoas interessadas nesse esporte fora dos Estados Unidos.

E mesmo que o futebol da bola oval ainda seja um mistério para muitos brasileiros, é praticamente impossível, especialmente nos meses de janeiro e fevereiro, não se deparar com algum conteúdo sobre a NFL (National Football League) nas mídias sociais e nos meios de comunicação.

Isso porque os playoffs da mais importante liga profissional de futebol americano do mundo acontecem ao longo do primeiro mês do ano, culminando com a grande final da competição, o Super Bowl, no início de fevereiro.

Na última temporada, de 2020, que ocorreu em meio à pandemia de COVID-19, a partida decisiva ocorreu na cidade de Tampa, na Flórida, no dia 07 de fevereiro de 2021, no Raymond James Stadium, com o duelo entre o Tampa Bay Buccaneers, do consagrado astro Tom Brady, e o Kansas City Chiefs, então campeão e liderado pelo quarterback sensação da NFL, Patrick Mahomes. O resultado foi a vitória do Tampa Bay Buccaneers.

Para conversar conosco sobre o evento e sobre como é trabalhar com negócios relacionados ao futebol americano convidamos o João Paulo Miguel, mais conhecido como JP, fundador do 10Jardas, tradicional site que cobre os jogos de futebol americano da NFL há mais de uma década.

Formado em administração de empresas pela PUC/RJ e empresário do segmento de turismo nos Estados Unidos, onde reside desde 2008, o JP, além de conduzir o 10Jardas, é um dos hosts do podcast Podnext, que aborda semanalmente temas relacionados a geopolítica, economia, história e meio ambiente, além de participar como convidado, desde 2006, do NerdCast, um dos podcasts mais ouvidos do Brasil. 

O 10Jardas, além do conteúdo em texto e vídeo, também possui um podcast semanal, o 10Jardas no Ar, que já está chegando à sua quatrocentésima edição. Tive a honra de participar da edição 298, em janeiro de 2019, e conheço de perto também o outro produto do site, o Tour 10Jardas, que é um pacote de turismo voltado para quem quer acompanhar partidas da NFL nos Estados Unidos (participei em 2017 e em 2018, quando tirei as fotos que ilustram esta entrevista).

Confira como foi o nosso papo com o JP!

Raymond James Stadium, onde acontecerá o super bowl - final do futebol americano
O famoso navio pirata do estádio dos Buccaneers.

Blog: É impossível falar da atual temporada da NFL sem mencionar a pandemia de COVID-19. Além do aspecto esportivo, quais foram os principais impactos para a liga de futebol americano em termos de negócios?

JP: O impacto mais direto foi na receita de eventos. Bilheteria, estacionamento, merchandise e consumo. Algumas franquias tiveram público nos estádios em capacidade reduzida. Outras, por determinação estadual, nem abriram os portões. Essa diferença acaba equalizada, pois a liga possui um sistema de distribuição de receitas entre as 32 equipes participantes, implementado originalmente para manter o equilíbrio técnico entre equipes de grandes e de pequenos mercados.

Na situação atual, esse sistema veio a calhar. Ainda assim, estima-se que as receitas totais da liga na temporada fiquem na casa de US$ 3 bilhões de dólares a menos do que em 2019. Apesar do maior número de pessoas em casa, a audiência televisiva também caiu (aproximadamente 7% em relação a 2019), algo atribuído também ao fato de 2020 ser um ano de eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Blog: Especificamente em relação ao Super Bowl, como você avalia as perdas para a cidade de Tampa por conta da necessidade de redimensionamento do evento? Muitos contratos certamente tiveram de ser rescindidos ou ajustados em virtude das limitações impostas pela pandemia. Dá para estimar quanto o mercado de turismo deixará de arrecadar em comparação com as projeções originais?

JP: Não dá para fazer essa conta, na verdade. Óbvio que business locais, como hotéis e restaurantes, teriam um “bump” de receitas, mas, como cidade, há uma discussão grande sobre se vale mesmo a pena hospedar o Super Bowl. A NFL faz tantas exigências e contratos garantindo as receitas que as últimas cidades têm reportado até prejuízo. Pessoalmente, vivi uma frustração, pois todo ano lanço um pacote de turismo, quando trago leitores do 10Jardas para assistir a jogos comigo. Para 2020, tinha decidido focar o pacote no Super Bowl, pois era uma oportunidade única.

Tampa é vizinha de Orlando, onde moro, deixando a operação bem mais fácil, pois a capacidade hoteleira daqui é enorme e mais barata do que em quase todo o país. Haverá cerca de 22 mil pessoas no estádio, mas meus leitores não poderão vir aos Estados Unidos por restrições de viagem.

Blog: Pela primeira vez na história uma franquia da NFL disputará o Super Bowl em seu próprio estádio. Já é possível enxergar como a cidade de Tampa poderá capitalizar sobre o fato de ter a equipe local diretamente envolvida na grande decisão?

JP: Muito pouco. Seria até uma situação a se observar, em tempos sem pandemia, já que boa parte do público viaja para ver seu time jogar em outro local. Como seria a ocupação de hotéis com o time da casa participando? Algo que só saberemos no futuro. De qualquer forma, o grosso de quem consegue estar presente normalmente é composto por convidados de grandes empresas, que fecham camarotes e blocos de ingressos junto à NFL, para levar funcionários e clientes. No máximo, para Tampa, teremos uma subida no valor dos ingressos, por maior demanda, quando as coisas voltarem aos eixos.

Raymond James Stadium, onde acontecerá o super bowl - final do futebol americano
Área interna do Raymond James Stadium.

Blog: Como é trabalhar com o turismo voltado para o esporte e, mais especificamente, para o futebol americano nos Estados Unidos? Você consegue perceber uma atenção especial das franquias em relação ao consumidor brasileiro, tendo em vista que o nosso mercado tem despertado um crescente interesse, sobretudo da NFL, mas também da NBA?

JP: Sim, há um interesse no mercado brasileiro. A empresa em que trabalho tem contrato direto com algumas franquias específicas, para oferecer descontos nos ingressos em mercados tradicionalmente procurados por turistas brasileiros, como Miami, Nova Iorque e Orlando. Junto ao público do Brasil, o caso de sucesso do Orlando Magic, com quem temos uma parceria de mais de 15 anos, é invejado por toda a NBA.

Blog: Relativamente à proteção de direitos de propriedade intelectual, você já enfrentou alguma resistência da própria NFL ao veicular conteúdos relacionados à liga e ao futebol americano?

JP: Teve um período, por volta de 2013, em que a NFL abriu um escritório de representação no Brasil e intimou a todos os blogs e sites voltados ao futebol americano exigindo que se adequassem a certas regras de uso de nomes. Afetou mais as fan pages de times específicos, que tinham nomenclauras do tipo “Cowboys Brasil”. A maior parte deles precisou mudar. Por exemplo, os “GiantsBR” viraram “Os Gigantes”. Como o 10Jardas é desvinculado, não tive que fazer grandes ajustes.

A única restrição direta que já tive foi quando tentei me incluir em um programa de afiliados com a NFL Shop e tive o pedido negado, pois alegaram haver algumas imagens não oficiais no site. Nada sério, pois, de fato, só comento sobre o esporte, sem monetizar sobre as marcas da NFL.

Blog: O 10Jardas já foi parceiro de um grande portal da mídia esportiva tradicional e possui, desde 2017, um programa de financiamento coletivo. Quais foram os desafios que você encontrou ao longo dos anos para estruturar e manter o site não só como um hobby, mas também como um negócio?

JP: O site é, na sua essência, um hobby. Vez ou outra, fazemos alguma ação publicitária para alguma marca que se interesse pelo público de nosso nicho. Como um todo, o momento para isso não anda favorável, por inúmeras razões. A solução para manter o 10Jardas com os custos de operação pagos foi o sistema de apoio, tipo subscription, a partir de 2017. Damos alguns benefícios, como acesso a matérias exclusivas, prioridade de leitura em outras, grupo de conversa no WhatsApp e participação dos apoiadores em nosso podcast. Desde o início deste ano, lançamos um modelo parecido na outra empreitada online da qual participo.

O Podnext é um podcast aberto, mas separamos alguns trechos para a comunidade no Sparkle chamada Podnext Confidencial, além da criação de material novo, dedicado apenas aos assinantes. É o caminho para a viabilização da maior parte dos criadores de conteúdo no Brasil, mas trata-se também de um grande desafio, pois exige entender bem o perfil de quem consome o produto, para designar as peças certas aos “clientes” e gerar a percepção de valor.


Esperamos que tenham gostado da nossa conversa com o JP!

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